sexta-feira, 13 de abril de 2018

Depoimentos I


Oi, meu nome é João. Nem sei o que eu vim fazer aqui, mas eu acho que eu tenho que falar algo sobre mim, né? É estranho, quando a gente tem que falar da gente, a gente não tem o que falar. É, eu tô ficando nervoso com isso. Não tô ficando bravo, mas meio agitado, sabe? É, falar de mim... Tá, peraí... Bom, eu trabalho, tenho minha casa, minha família. Faço tudo certo, desde que ninguém me atrapalhe. Mas como é difícil não ser atrapalhado, né? Não que eu seja confuso, hahahhaa, pareceu isso quando eu falei. Me senti bobo agora. Como eu disse uma coisa que quer dizer outra? Sei lá, bobagem isso. Bobagem de um bobo. 

Eu sou a Suelen. Eu estava louca para vir aqui. Preciso muito contar umas coisas. Eu finalmente terminei com meu namorado, aquele traste. Foi assim, ele me mandou uma mensagem de whatsapp. Vou ler, porque ele diz que eu invento coisas, mas ele escreveu. Ouve só: “E aí?” Percebe, depois de uma semana sem nenhum contato, depois da nossa discussão, ele me manda um ‘E aí?’, só. Eu dei corda, queria saber o que ele ia dizer. Mas ele não sabia o que dizer. Eu queria que ele soubesse o que dizer. É o momento de reconquistar. Mas ele foge, se esquiva. Eu queria muito que ele tivesse dito uma frase romântica, cheia de carinho. Ele nunca tentou ser carinhoso, mas eu ainda esperava carinho dele. Seria tão bom se ele fosse espontâneo como meu primeiro namorado, que chegava escancarando seu amor por mim. Ou como o último, que me mandava textos, músicas, vivia falando comigo o dia todo. Mas por que eu terminei com todos os meus ex? Por que acaba? Eu disse tchau para o traste, e ele aceitou. Todos eles aceitam o meu adeus. Meu deus, sou sempre eu que digo adeus. Mas eu digo por mim ou antecipo o adeus deles? Alguém tem que terminar o que começou, né?

Oi, eu sou Alzira. Me perdi tentando chegar aqui. Eu sei que eu tenho muito a dizer, mas me confundi com o ônibus. Achei que ele passava no ponto da esquina da Olavo de Freitas com a Monsenhor Vieira. Esperei mais de quarenta minutos. Foi quando perguntei para o rapaz que esperava comigo e ele disse que o ônibus que vem pra cá, passava na rua de cima. Quando cheguei no ponto certo, ainda esperei mais vinte minutos. Bom, agora estou aqui, ainda bem. Vou falar rápido para dar tempo.  Saí cedo, pensei no que eu ia fazer enquanto esperava aqui. Mas demorei e agora tenho pressa. Bom, acho que a verdade é essa, tento me adiantar, mas me atraso e aquilo que mais quero, só consigo um pouquinho. Estou tão aflita ainda com o meu atraso, que nem sei o que quero dizer. Minha vida está um caos. Eu tenho uma rotina cheia, muitas pessoas para cuidar, mas quando chego em casa exausta, caio no sofá e não vejo mais nada. Como organizar tudo isso? Essa bagunça toda é uma loucura. Por onde eu começaria? Acordando mais cedo, daria para fazer alguma coisa em casa antes de ir para o trabalho. Mas se eu colocar a roupa na máquina, esperar terminar a lavagem, ou acordo no meio da madrugada, ou me atraso. Ai, olha ele aí de novo, o atraso.  Será essa a minha sina, correr para chegar atrasada?

Simone de Paula - 13/04/2018

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário