sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Um dia

Um dia eu te encontrei. Te perdi.Não te esqueci.
Te reencontrei, me despedi.
Mas o mundo é aberto e da terceira vez, quem me reencontrou foi você. Nos perdemos, acreditando ser apenas a geografia que nos separava.
E um dia eu lembrei, que se eu não te buscasse, talvez jamais te reencontraria. Dessa vez, apesar da geografia, a correspondência fez as vezes da presença e nos encontramos durante muitos dias. Nas nossas cartas, nos conhecíamos atualizados e nos lembramos dos antigos eus que fomos e não precisávamos mais ser.
E, num último dia, o encontro definitivo. Sim e não no horizonte.
O que vimos foi o desencontro que nunca tinha se revelado.Te desencontrei.
Nos despedimos.
Fico com o poema que se tornou imagem. A versão do que poderia ter sido na ilusão da nossa falta mais íntima.

“Um dia

Umas fatias de pão torradinho,
frutas frescas, um café, um cigarro
e uma outra coisa qualquer com uma pitada de ternura.

Um mergulho nas origens,
gotas de luz escorrendo em teu sorriso
fluídas, como as tuas mãos nos teus cabelos.

Uma música na alma,
um passeio descalço pelas alamedas do subúrbio
à alegria de um sol abrindo flores.

Um chope,
um frango assado,
um aceno a um amigo que passa em liberdade
e uma conversinha à toa sobre coisas sem mistério

Depois, a ilusão
de que não há fome no mundo,
de que não há criança sem escola,
de que nos corações não há malícia,
nem vingança feita crime,
nem guerra,
- a ilusão de que não há falta.

Então,
uma caminha macia,
um lençol com cheiro de primeira vez,
um momento pra sempre em nossos corpos
num pedaço de noite e luar pela nossa janela sobre o mar.

E um poema.

Um poema
para não deixar que coisas como essas
morram assim, simples coisas como coisas,
assim, na coisidade de um dia
- ainda que feliz.”

Pedro Lyra 

Simone de Paula - 18/1/2018

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