sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

City shots



A sexta-feira era de primavera. A temperatura quente prometia uma tarde sofrida na metrópole agitada e barulhenta. De repente a chuva, intensa, molhada, aliviando os corações. Naquela avenida movimentada, carros e motos seguiam sem mudar a velocidade. As pessoas, essas também, não mudavam o ritmo. Era sabido, ninguém mais se abalava diante de uma tempestade imprevista. Chuva boa.
No ponto de ônibus as pessoas se espremiam, inclusive com seus guarda-chuvas abertos. O casal de jovens, carregando o cachorrinho preto pela coleira, voltava com a orquídea de presente embrulhada num saco preto. Os pedreiros animados com o fim do experiente, alegravam-se com a promessa da cerveja do fim do dia. O desespero do desempregado dá lugar ao delírio do artista no palco, cantando no meio da avenida, entre o vai e vem dos carros, a melodia de louvor ao deus que insiste em castigar os pecadores encarnados. Um ônibus chega, alguns entram, seguem seu destino. 

Simone de Paula -14/12/2017

Conto inspirado na cena urbana do dia 08/12/17, na avenida Dr. Arnaldo em São Paulo, sentido Perdizes. 

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