quinta-feira, 6 de abril de 2017

Rumos

Seguiu dirigindo por muito tempo, parando apenas para abastecer o carro, comer alguma coisa e descansar, quando os olhos começavam a embaçar. Estipulava as paradas de forma mais frequente do que fazia na cidade, quando esperava o tanque chegar à reserva, a barriga roncar por falta de alimento e cochilava levemente enquanto escrevia os relatórios. Nessa estrada a coisa funcionava diferente, mas também não queria parar, ainda não era o momento de encerrar aquela viagem.
A decisão pela saída sem rumo numa estrada desconhecida, surgiu num dia em que leu os relatórios que vinha fazendo sobre uma longa pesquisa e não encontrou nenhuma possibilidade de algo novo. Era mais do mesmo, repetição, tudo que ela já tinha visto antes. Aliás, que outros já tinham concluído. A personalidade rebelde insistia em querer ver diferente, onde era impossível. Se deu conta disso, levantou daquela cadeira marcada pelo excessivo tempo em que permaneceu sentada e saiu.
Pegou algumas roupas, que combinavam com estações do ano e determinavam um estilo pessoal. Ela poderia ser ‘reconhecida’, mesmo sem se apresentar, pois era possível supor sua identidade. Carro, dinheiro, documentos e um mapa. Sabia para que direção seguir, mas não sabia onde iria parar.
Notou que seguia o mesmo movimento da pesquisa, pois via as mesmas placas, mesmo que com nomes diferentes de cidades. Quando parava, escolhia os mesmos lugares para descansar e as mesmas comidas para engolir. Não via nada novo e nem se sentia despertando do torpor em que estava naquela cadeira de casa. Ia, sem parar, pois não tinha motivos nem objetivos.
Não tinha coragem nem de parar, nem de voltar. Não tinha rumo, nem rota, mas também não encontrava em que se concentrar ou se ancorar. Lembrou que a praia seria um destino mais abrangente. Seguiu para lá.  Mas não encontrou nada novo, porque não conseguia nem saber o que buscava e nem o que tanto reencontrava.
Parou no meio da estrada, desceu do carro, sentou ali, olhando o céu, o horizonte, tudo e nada. Deixou o tempo passar, apenas respirando e sossegando a alma. Anoiteceu, a lua brilhava ao lado de muitas estrelas. Teve apenas uma certeza, que a busca poderia continuar, mas o que ela mais desejava naquele momento era a cama quente, da casa aconchegante, do lugar mais familiar que conhecia, do seu próprio eu.

Simone de Paula - 07/04/2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário