sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Olhos nos olhos



A vida é um instante e o tempo era só aquele. 
Não precisava mais. Era aquilo. E só e tudo.
Eu precisava escrever, antes e depois, e viver durante. 
Meu corpo acelerado, parado, implorava por aquele sentimento sem nome, que pressionava minha alma. Era isso, minha alma queria sair, mas ela tinha que ficar. Eu corria o risco de desmontar.
O relógio da parede fazia tic-tac. A areia da ampulheta escorregava pelo tubo fino de vidro e mostrava que nem dentro, nem fora, nada estava parado.  Mas nada acontecia.
Tudo que eu quero muito me provoca isso. Seria medo de perder, desejo de ter, ou impossibilidade de ser?
Na dúvida, eu preferi não ver. Não ver se você parou para olhar para trás, não ver meus olhos nos seus olhos, nem ver meu olhar de cúmplice. Mais ainda, não ver se você parou de olhar, desviou para a tela do celular, buscando uma informação mais prática da realidade. Não, não poderia ver e saber o que eu não estava pronta para reconhecer. 
A vida é um instante e o tempo era só aquele.

Simone de Paula - 04/11/2016

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