quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Cria

Uma filha diz para mãe: você não me escuta.
Quer sua presença além dos ouvidos.
A mãe não pode dar mais do que pode dar.
Não se entendem, irritam-se.

Estão no Rio de Janeiro, caminham juntas em Copacabana, à noite.
A mãe não entende a carência da sua menina, acha que aos 23 anos a garota já deveria ter o desapego que ela mesma sem saber deseja. Acha que diante desse corpo alto e feito, não sobra espaço para um ninar de gente pequena. 

Não pode suportar hoje que lhe peçam amor.
Mesmo a onda, o vento cantado, o samba em volta, mesmo qualquer coisa, não a fariam entregar aquilo que tanto protege.

Ela teve vontade de chegar na sua mãe, avó da menina e dizer como que contando um segredo: senti sua falta hoje, me dê um beijo, vou te contar uma história, eu não sabia que gostava tanto assim de você, não porque eu preciso, mas porque eu era assim.

Não teve o tempo, nem voz.
Hoje sente a falta, devolve a falta, ambientam-se nela.
É a ferramenta que procurava para ver-se nova.

Ouviu-se
e dormiu então.

De manhã, abraçaram-se.

Maria Laura




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