terça-feira, 19 de julho de 2016

Um início

Era um quarto de hotel, como tantos outros espalhados pelo mundo. O que eu esperava? Talvez  algum sinal de familiaridade. Algo que não estou encontrando no endereço que viverei nos próximos meses. Tudo milimetricamente colocado na pia do banheiro, o criado mudo com o clássico telefone, papéis com o timbre do hotel e a relação de número da recepção, serviço de quarto, lavanderia e afins. Tudo estava ali, como deve estar, como em um bom quarto de hotel. Mas  confesso que houve um estranhamento. Sei lá, imaginei tanto esse momento que acho que esperava algo diferente, algo que representasse tamanha intensidade do que iria viver ali, naquele quarto e naquela cidade. Na verdade, não encontrei absolutamente nada que pudesse ser um símbolo da confirmação de que havia feito o melhor, de que morar em um quarto de hotel para realizar aquilo que era o meu maior desejo havia sido a decisão certa. Sabe essas coisas que gostamos de inventar para afirmar aquilo que gostaria de confirmar? Acho graça de pensar que sou um sujeito que inventa uma narrativa em detalhes antes mesmo de ser real e quando estou vivenciando tal narrativa, construo uma outra narrativa para confirmar a primeira e passado o tempo, reconstruo de outra forma, para que vire uma história cheia de significados e mensagens ocultas até para mim. Enfim, a louca das narrativas. Fato é que estava difícil e eu cansada de toda essa viagem que começou anos atrás. Decidi tomar um banho e relaxar. O banho foi ok, nada  incrível. O chuveiro não era tão forte como eu gostaria, mas ok. Fui até a única poltrona do quarto e puxei até a janela. Sentei e senti. Sim, era o meu quadro. Olhar para fora e ver aquela rua, imaginada e desejada por anos, ali, na minha frente. Sim, estava no meu novo endereço e começava a pendurar os quadros.

Carla - 19/07/2016

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