terça-feira, 5 de julho de 2016

Um fim


Ela tinha passado o dia inteiro sendo vigiada. Os olhares a acompanhavam em todos os momentos, desde que pisou, logo cedo, no trabalho. Ela imaginava que chamaria atenção por voltar ao trabalho três dias depois do que aconteceu. Mas não pensou em momento algum que seria vigiada. Ela passou o dia inteiro sendo olhada e pensou: Por que isso era tão ruim? Na verdade, nenhum olhar dizia algo, apenas questionava: Como você já está aqui? Como você consegue? Você deve estar em processo de negação, né? Não é melhor ficar em casa mais um tempo? Essa eram as vozes na sua cabeça, já que quase ninguém falou com ela durante o dia, ninguém quis conversar com ela, apenas olhar.

No metrô, a caminho de casa, pensou: Por que é tão difícil lidar com o fim? Por que as pessoas querem evitar a todo custo pensar no fim? E, ainda mais, nesse momento em que o fato aconteceu com ela e não com eles. Enfim, do que eles têm tanto medo? Sentiu uma cutucada no braço e quando virou para ver do que se tratava, um lindo sorriso a esperava com um tímido: “Tudo bem? Desculpa incomodar, mas como sua música está alta, não pude evitar de escutar, que música linda! De quem é?" Ela, meio surpresa e meio atrapalhada, porque nem sabia qual música estava escutando, saiu do seu fim para um início: “Oi! É uma música de um pianista pernambucano..."

Carla - 05/07/2016

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