sexta-feira, 1 de julho de 2016

Ronda diurna

Olhando aquela cena, a impressão era de uma tragédia. A Rua das Oliveiras estava bastante tumultuada naquela tarde de quinta-feira.
O policial auxiliava o ciclista sentado no meio-fio. Ele tinha sangue na palma da mão e a bicicleta caída ao seu lado, tinha a roda amassada. O policial não sabia a gravidade da situação. Sondava se deveria chamar uma ambulância. 
- Policial, eu vinha subindo a rua tranquilo, cantando, como faço todo dia. De repente, ele se atirou na minha frente, me deixou sem saber o que fazer, era ele ou eu, e escolhi me atirar no chão.
- Mas você bateu a cabeça?
- Não, não sei, quando vi eu estava preocupado em não ser atropelado. Acho que não bati a cabeça.

No banco da pracinha, ela chorava desesperada com o cachorro agarrado nos braços. Entre soluços e lágimas, falava sem parar.
- Ele é muito bonzinho, não faz esse tipo de coisa. Quando eu vi, fiquei desesperada. Nem correr eu conseguia, porque meus pés pareciam grudados no chão. Eu gritei, chamei, mas ele parecia não me ouvir. Quando tudo aconteceu eu pensei em acudir o rapaz, mas ele não precisava e o Toby veio em minha direção para me consolar, me acalmar. Ele viu como eu estava exaltada.

Seu Tobias, dono da banca de jornais, olhava aquilo tudo e pensava em como a vizinhança tinha mudado. O bairro simples tinha ganhado moradores com mais dinheiro e tudo tinha cara de novela da globo. O policial chegou perto da banca e seu Tobias quis dar a sua versão.
- Olha policial, eu vi tudo. Tenho essa banca há cinquenta anos. Isso já aconteceu outras vezes, mas não foi coisa que precisava de polícia. Ele vinha pedalando, subindo a rua, mas começou a mexer no bolso, acho que estava mexendo no celular. Quando olhou, nem deu tempo de brecar, foi pro chão. Mas não bateu a cabeça, não. Eu ajudei ele a levantar, foi só uma ralada. Coisa que a molecada do rolimã vivia todo dia. Ela é esquisita, fala sozinha, vem com esse cachorro toda tarde, não fala com ninguém. Ela acha que o cachorro é gente, dá bronca, faz carinho. Mas ela vacilou, tirou a coleira e estava fazendo cafuné. O bicho olhou do outro lado da rua e saiu feito louco. Ela caiu sentada no chão, gritou e cobriu os olhos. Não viu nada. Quando olhei o cachorrinho tava lá cheirando o morador de rua que agora se instalou ali. O cara assobiou e ele foi correndo. Essa raça gosta de correr, e ficar preso na coleira ninguém quer, né?

Os policiais que faziam a ronda se olharam.
- O cara não bateu a cabeça, não precisa chamar socorro. Vambora!

Entraram na viatura e sairam. As pessoas que tinham parado pra ver o que tinha acontecido também foram embora. Em menos de 10 minutos tudo voltou ao normal na Rua das Oliveiras.

Simone de Paula - 01/7/2016

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