sexta-feira, 8 de julho de 2016

No tempo da certeza

A renúncia não foi pela culpa ou pela consideração, mas pelo fato de que só seria possível uma renúncia naquele dia.
O céu amanheceu alaranjado, indicando que o dia seria de sol. O vento frio anunciava que o clima era de fim de outono. A rotina matinal seguiu seu ritmo normal e a marca de certeza a habitava no meio do peito.
As Certezas são muito traiçoeiras. Eu mesma não confio quando sinto uma, pois elas logo mostram que são volúveis e mudam tudo por qualquer traço. Tristeza, insegurança ou indecisão. Os traços rasgam as certezas ao meio e geralmente as transformam em vazios.
As horas do dia foram passando e a certeza evanescendo naquele peito. A luz vibrante que estava acesa desde o despertar, agora dava lugar a um entardecer pálido de um dia indiferente.
Ela já vinha pensando há algum tempo se essa impressão de certeza era verdadeira. E naquela manhã, era. O tempo passou liso, suave, sem turbulências ou escansões e isso justamente fazia a manobra lenta e definitiva na tal da certeza.
O Tempo é outro que não se deve confiar. Se ele passa, pode contar que algo vai mudar. “É agora ou nunca” - o ditado não deixa de confirmar. Os modos de funcionamento do tempo são vários, mas o adiamento geralmente tem apenas um elemento, o medo. De quê? Pouco importa, pois se há o medo, de fato não há espaço para o acontecimento.
A hora chegou. Ela olhou para o horizonte, foi verdadeira consigo: não tinha mais nenhuma certeza, mas também nenhum medo. A questão não era de adiamento, mas de renúncia, porque chegou a hora de dizer: chega!
Ah, essas certezas, essas velhas inimigas do juízo...
Foi só afirmar que tinha se decidido, que o seu peito voltou a acender e num rompante a agonia toma o lugar da decisão e a joga novamente nos braços das possibilidades, nas armadilhas do acaso.
Certa sou eu, que não confio nas minhas certezas, optando por nem tê-las. E, pra evitar adiamentos ou antecipações, deixo o tempo correr, solto, nas trilhas do destino.

Simone de Paula – 7/7/2016

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