sexta-feira, 22 de julho de 2016

Minhas Férias

"Minhas férias!"
Todo começo de ano eu ouvia essa frase e já queria ter faltado na aula. Eu não tinha 'minhas férias', ao contrário. Meu pai, dono de uma oficina mecânica, não tinha 'o luxo' de tirar férias. Além disso, trabalhava de domingo a domingo, porque tudo que ele queria era sair cedo de casa e só voltar para jantar e ver tv, dormindo no sofá, enquanto minha mãe reclamava da falta de dinheiro. Eu ouvia aquelas reclamações noturnas e nem penaaria em reivindicar 'férias'. Sentia culpa só de pensar. Quando mais novo, eu cheguei a pedir para ver o mar. Levou uma hora para a discusão deles terminar. No dia seguinte, meu pai trouxe um jornal cheio de graxa, com uma foto da praia lotada no verão. Ele me mostrou aquela foto e disse: "olha a praia, esse monte de gente suando, é isso. Um dia você chega lá." A surpreaa em ver aquela reação me fez desistir de pedir alguma coisa. Durante os meses de verão eu ia com ele pra oficina. Gostava do cheiro de óleo queimado, da sujeira nas mãos, da mijada atrás do muro. Me sentia um pouco neu pai e até inventada de falar de forma rude com a minha mãe, que me dava uns tapas nas cosstas pra mostrar que em mim ela mandava.
Mas a professora pedia redação e eu inventava uma viagem por ano. No começo escrevia o que tinha ouvido das histórias infantis. Depois, o que eu ouvia nas aulas de geografia. Mas foi ficando dificil inventar do nada e passava as férias lendo um livro, e recontava como uma aventura inédita.
Hoje tenho um emprego, esposa e filhos. Todo ano reservo ao dias das férias da família. Mas confesso que nenhuma viagem foi tão diverida quanto os dias de oficina. Uma coisa eu ainda faço, levo um livro. E quando volto, coloco partes dele quando conto como foi a viagem.

Simone de Paula - 22/07/2016

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