sexta-feira, 10 de junho de 2016

Questões



Como se faz uma pergunta?
Essa é uma dúvida que percorre meus pensamentos. Toda vez que eu percebo que o que eu quero saber só é pensado depois do assunto ter mudado de rumo, eu noto que deixei o momento passar.
Então, não é ‘como’, mas ‘quando’. Quando se faz uma pergunta? Será?
A questão é tão grave que cheguei a consultar um querido professor sobre uma pesquisa acadêmica que me permitisse ‘aprender a perguntar’. E ele, na melhor ironia orientadora, me disse para ler livros sobre ‘pulsões’. E, como boa aluna que sou, segui sua ordem e li diversos. Muitos. Fiz inclusive fichamentos. Isso me serviu, mas não me garantiu as perguntas na hora certa, muito menos um projeto de mestrado.
Enquanto escrevo isso, um sorriso surge nos meus lábios, afinal, parece muito bobo, como uma pergunta não sabe perguntar? Ops! O lapso comprova, o que deveria estar escrito aí é, como uma pessoa não sabe perguntar? Pessoa ou sujeito? Quem pergunta em mim quando eu pergunto? A dúvida é perversa, ela toma uma proporção diabólica.
Perguntas demandam respostas ou o desejo por respostas invocam perguntas? Me parece que a exigência do interlocutor está na base da dupla pergunta/resposta. Mas uma pergunta é uma questão? Para mim, a pergunta é a questão!
Olho pela janela, para o teto, e penso nostalgicamente, ‘onde eu estava na fase dos por quês?’ Pelo que eu sei desse passado infantil, eu estava falando feito uma matraca. E, provavelmente perguntando sobre muitas coisas. Mas isso foi parar tão longe que nem posso lembrar e muito menos afirmar.
Ah, isso tudo é culpa da bendita Lua em Gêmeos, só pode! Geminianos! Quem além deles vive com a cabeça a 200 quilômetros por hora? É tanto pensamento que nem dá tempo de pensar sobre o pensado. Chega outra ideia e empurra a anterior para fora do campo de atenção. Pensa em um monte de coisa e não pensa em nada.
Por que eu estou ouvindo The Police? Como essa música chegou ao final e eu nem me dei conta que ela estava tocando?  Porque eu estava pensando sobre as perguntas e nem me dei conta dos sentidos que estão ativados. Os sentidos adormecem enquanto a cabeça tenta dar sentido ao fluxo de ideias. O corpo morre enquanto a mente vive?
Essa lógica das perguntas, dentro de mim, funciona de forma muito esquisita. Eu me pergunto o que deveria ser a resposta do outro. Isso indica que as coisas seguem no sentido inverso. Eu deveria perguntar para ‘fora’, para receber uma resposta e não perguntar para ‘dentro’, e imaginar uma resposta. Hora da fase 3: ‘operação fala mansa’.
A ordem como essas coisas tem se desenrolado parecem indicar que mais do que fazer perguntas, eu quero dar respostas. Certo! Vou pro analista!
Não, mentira! Eu quero mesmo é te perguntar uma coisa: você me ama?

Simone de Paula – 09/6/2016

Inspirado no ‘Livro das Perguntas’, de Pablo Neruda.

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