quinta-feira, 16 de junho de 2016

Estão plantadas no jardim

Quando cheguei naquela casa sabia que algo diferente estava guardado em algum dos seus cantos. Entrei lentamente para não perder de mira o meu real objetivo de estar ali. Eu sabia que era um lugar de parentes, seus, não conhecia o grau de proximidade do sangue, mas imaginava que fosse perto, estreito, melhor. Queria saber tudo que eles faziam na tentativa de saber das coisas de você  e de alguma maneira me acalmar porque haveria algo que pudesse compreender. Assim meus temores seriam abrandados porque justificaria seu jeito frio de acordo com a fala da avó para o neto ou a briga dos sobrinhos ou qualquer coisa, ato, fala, movimento das origens e da historia me contando. Quando a gente está perto das coisas sem controle imaginamos muitas tolices, imaginamos que um dia controlaremos, que um dia saberemos e a maior bobagem é a maior alucinação e todos caminham juntos, tomam chá e café.
Então cuidadosamente fui até a cozinha, abri o armário principal às escondidas, saboreando minha audácia investigativa de você. Olhei as panelas, a pimenta secando para virar pó, o óleo se esparramando pelo jornal que forrava tudo, dei uma bela fungada quando abri o guardador de masalas e pronto, espirrei imediatamente, o garoto acordou, o choro começa. Mãe, tia, cunhada correram para entender o grito tão fora de hora, todas em volta dele, era apenas um bebê e tentavam se comunicar, adivinhar o que cada lágrima daquela dizia, mas não podiam. E era exatamente o que eu estava fazendo, uma menina. Procurava você em todas as raízes, no cheiro do arroz, na cor amarelada de tudo, no banheiro sem teto, na minha coisa infantil de não ver o outro como ele é, outro. Queria te ter como meu, achar seu passado pra me zangar com ele, tinha ciúmes da minha própria imaginação. Uma criatura.
Todos eles te compunham, eram seus fragmentos. Continuei a ronda até o jardim, as formigas me morderam, eram muitas, tive que parar, sentei na primeira escada, o vestido já estava molhado, o calor latejava minha incoerente caçada. Não era você que eu queria, era me conhecer que eu não sabia, chorei comigo num abraço de dois braços em volta de mim só, haviam ainda tantas casas, cômodos e especiarias nessa descoberta, eu mal sei. É um começo.

Espero não ter nenhuma resposta e viver.
Também me deitar com amor, como compartilhar o sono e o som em volume baixo dessas gritarias. 

Maria Laura

Nenhum comentário:

Postar um comentário