quinta-feira, 7 de abril de 2016

Stone Soup


Conta a lenda que viajantes famintos chegam em um pequeno vilarejo e pedem comida desesperados.
Eles carregam uma grande vasilha, vazia.
A comunidade está relutante, não quer compartilhar seu alimento.

No entanto, é preciso saciar a fome.

Eles saem pelas ruas, colocam água no seu pote e pedra.
Dizem: uma deliciosa sopa de pedras!

As pessoas estão confusas.
Como assim?
Assim, só falta uma cenoura.
E vem um com a cenoura.
Coentro faria a diferença aqui.

Todos se perguntam como poderia ser um prato desses.
E curiosos iniciam as contribuições. Tomate do jardim, um gengibre esquecido, pedaço de raiz, milho, folha, talo.
Querem ver de perto, provar o sabor desconhecido.
Quem poderia imaginar?!

Um único ingrediente, uma coisa e o sabor se transformava, fervia, aromatizava.
Tinha um pouco de João e José, Ashoke, Ibraim, pernambucano, paulistano, indiano, ituveravense. Maria, Marias, Badyia, tantas.

São horas.
Tempo.
Cozinham, temperam, misturam.
Tempo.

No final, a cidade antes temerosa agora prova contente o que fez.
Pais, filhos, homens, mulheres, bicho, gente.
Estão maravilhados, nunca viram tanta harmonia reunida em uma só colher, em uma só pedra.

Não haverá um dia como esse.
Desfrutemos.

...

E assim me aproximei.
Na casa de Nazaré, no bairro de Juhu, em frente uma praia de Mumbai, com vento, onda e areia.
Aceitei o convite para Stone Soup.

A porta está aberta, nos sentamos em silêncio.
Somos um círculo e nos calamos para ouvir.
Sabemos da voz.

Tammisa doa a sua especiaria falando da sua angústia diante do amor.
Lawrence coloca uma pitada de sal relatando o diálogo com um grande sábio no meio da rua agitada e barulhenta. Eu conto dos inúmeros encontros que vão me seguindo, incluindo esse que acabava de acontecer.

Obrigada, nos lembramos sempre.

Então, ainda sentados, provamos o dal, o arroz com cardamomo, a lentilha com folhas de curry, os legumes picantes vibrando a língua, a boca, o pulso.

Digo sim.
Estou aqui.
Danço com todo meu corpo. Danço a música.
Como a oferenda, respiro o incenso, sou capaz de dizer que estou sozinha.
Vamos dar uma volta?

E um longo passeio de mãos dadas, que sempre esteve ali, me chama pelo ouvido.
Vem comigo aqui.
Cutuca.
- Como será a nossa?
- O que?

- Sopa de pedras.

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