sexta-feira, 18 de março de 2016

Outra gata borralheira



Um dia, fui empurrada para fora de casa. Nada traumático, eu precisava encontrar a minha própria vida. Ganhei a chave da porta e um adeus simpático que indicava: quer mais, vá buscar.
Fui, busquei, mas para onde eu levaria aquilo? Tentei voltar, mas ali já não era mais o meu lugar.
Fui, busquei mais, voltei. E ainda não tinha voltado a ser o meu lugar.
Percebi que aquilo que eu trazia, uma melhoria de mim mesma, não bastava para voltar a ter lugar naquele altar. Saí novamente e deixei que o mundo dissesse o que dessa vez eu estava buscando. Fui encontrada, gostei de ter aquilo com que me deparei, mas não podia levar comigo. Voltei, certa de que ia sair de novo e me deixar ser encontrada. Fui e voltei, e fui e voltei.
Compreendi: eu funcionava ao contrário do conto de fadas, eu era a gata borralheira do lado de fora e a cinderela do lado de dentro. Ficou tudo tão mais fácil. E, mesmo que eu não queira, não tenho escolha em não voltar.

Simone de Paula – 04/02/2016

Conto inspirado no filme ‘Yes’, de Sally Potter. E ainda num céu qualquer de um dia muito especial na vida de uma pessoa.

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