sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

É só o Destino



Nasci num mundo cheio de gente. Gente de todas as formas, cores, tipos. Mas nenhuma encaixa.
Tento explicar pra mim mesma, mas nem eu entendo. O analista também não, o macumbeiro idem e a melhor amiga nem sabe do que eu estou falando.
Dei voltas ao mundo, procurando encontrar o par perfeito. Acho que nos desencontramos, porque é impossível não ter quem combine.
Poetas, escritores, cineastas, compositores e artistas, todos sabem exatamente do que eu estou falando, porque só alguém na mesma situação conseguiria descrever tão bem esse estado. Mas quando eu penso que fazer uma canção seria a solução, a folha em branco me lembra: é só você!
Essa verdade assim, revelada cruamente pela folha em branco, pede um revestimento melancólico. Bobagem, melancolia não sinto, nem isso.
Acabei de me dar conta de que nem os poetas, escritores, cineastas, compositores ou artistas encaixam, pois eles têm pelo menos a melancolia. E eu, nem ela me acompanha.
Uma vez encontrei alguém. Não era exatamente, mas dava pra fingir que cabia. Tentei tanto, que acreditei ter dado ‘match’. Anos se passaram e a rotina se encarrega de esconder as diferenças por trás das obrigações. Tudo parece combinar, como numa dança monótona: dois pra lá, dois pra cá.
Mas a gente não engana o destino, ele não tem pressa, nem ansiedade, nem preocupação em provar aquilo que está traçado. Ele simplesmente passa a caneta na hora certa.  E claro, a rotina sucumbiu à solidão e as coisas voltaram ao seu lugar. Estou só.
Engraçada essa coisa de solidão, me dei conta de que ela não me aflige mais. Ela não precisa ser evitada, escondida ou negada.
A última vez que ela me pegou, os disfarces se desconectaram. Tava tudo amarrado, girando numa aparente normalidade, mas soltou. E, ao invés de surpresa ou sofrimento, não tinha sentimento. O tempo parou, e assim não há ação possível. E nem pressa, nem incômodo, nem nada. Era isso, eu estava só. E algo novo tinha se revelado, era o destino, eu e ele, nós dois. Finalmente encontrei o que encaixava, eu mesma no meu destino. E o que ele me revelava, era que ele tinha me reservado a solidão.

Simone de Paula – 25/02/2016


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