sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Dog-boy

Eu conheci um cãozinho, Dog-boy.
Ele chamava pouca atenção: tinha porte médio, era branco com algumas manchas de cores comuns. Nada demais. Apesar dessa aparência indistinta, ele era um cão muito ativo, não parava, sempre pra lá e pra cá circulando, chafurdando, farejando.
O mais curioso é que ele parecia ser muito interessado no mundo. Atento, olhando tudo e todos com muita atenção. Investigativo, chegava perto e parecia querer muito interagir. Ele rondava, se aproximava, mas perdia o interesse e seguia em outra direção.
Um dia resolvi prestar atenção ao que ele fazia e por que se desinteressava. E notei que ele tinha um limite, ele estava preso. Pensei: mas que coisa, como pode um cão sem coleira estar preso?
Observei o espaço que ele ocupava e percebi que não aparecia nenhum dono, nem voz de dono. Ele estaria sozinho? E por que permanecia ali, brincando apenas naquele espaço restrito? O que não havia me dado conta é que tinha uma fronteira entre ele e o mundo. Ele estava num quintal, na frente da casa, mas entre ele e a rua tinha um belo portão. Como o portão era baixo, nem imaginei que isso o limitaria. E se ele quisesse, o portão não seria problema para ele sair e explorar aquela imensidão que passava pelos seus olhos, pelo seu faro. Fato é que Dog-boy não fugia. Ficava ali, serelepe, animado, mas obediente ao seu amo, delimitado pelo quadro que lhe tinha sido designado.
Dog-boy era um cão safado, porque não tinha carisma, mas se mostrava para quem dali se aproximasse. Ganhava pouco tempo de atenção e guardava aquilo como um troféu da sua aventura. O que faria Dog-boy viver alguma aventura um dia? Como será que ele atravessaria aquele portão? Daí fui eu que fiquei presa naquela teia de fantasias e suposições, ligada naquele cãozinho, na rua, separada por aquele portão. 
Um latido vindo de outro lado me acordou. Percebi que Dog-boy tava todo excitado com o cachorro saltitante que passeava com seu dono e isso me deu a pista pra entender quem era Dog-boy, o cão que não late, não morde, só fareja.
Simone de Paula - 31/1/2015
Conto inspirado em uma cena urbana que se repetia diariamente

3 comentários: