sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Restauro

Quem é você?

Onde esteve? Com quem falou? O que fez? 

Levantar os dados da vida dá muito trabalho. Arqueologia pura. 

Lembranças, porque a mente é capaz de guardar muitos dados.

Encontros memoráveis, porque arquivos são capazes de manter as coisas em ordem e te permitir achar o que nem sabia que tinha perdido.

Insistências angustiantes, quando lembrou de uma coisa, por ter encontrado outra, mas não consegue recuperar a primeira. É impressionante a capacidade de se apegar à falta, à ausência, ao buraco.

De tudo que tem, não falta nada. Bendito dito! Mas nossa cabeça de bagre não aceita essa lógica, porque empaca no furo.

E o mais curioso, furo é abertura, pra faltar coisa mesmo, pra dar espaço e respiro. Mas dizem que ele inaugura a existência e com isso, faz a gente emperrar onde não tem nada.

Sim, teve, foi, passou, perdeu. Não vai fazer tanta falta assim, não era imprescindível, porque se fosse, não teria sido perdido, ou melhor, teria sido guardado.

Pegando pela memória, foi assim desde o começo, meio esquecido, meio sem fazer questão. Mas aí, na linha do tempo, a insistência aparece aqui como apareceu lá. E para quê? Por uma vaidade besta.

Deixar pra lá, não se incomodar, porque é a falta que pode faltar e que não movimenta nenhum desejo bom o bastante para se realizar.

Simone de Paula - 03/11/2023

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Contos da Lua nº 5

Lá vem ela, toda glamourosa!

Peito erguido, orgulho assumido. Se coloca como sua majestade, mesmo nem notando que já pode ter perdido o reino.

Generosidade, sim! Petulância, também! Teimosia, disfarçada de certeza.

Sem dúvida, encanta e ilumina o ambiente. Chama a atenção porque não esconde a sua presença.

Assume quem é, tem identidade. Porém, tudo é personagem. Veste a roupa e sustenta a narrativa.

Brilha, dramatiza, ri e chora para todo mundo ver. 

Não se desculpa pelos desvios, seja de caráter ou do erro do figurino, afinal, não carrega culpa.

Puro desejo, pela vida e pelo outro. Quer e tem o que quer, usufrui do melhor. Até na falência, não vê a falta como um problema, mas como uma forma de dar a volta por cima. Não é questão de garra, não, é forma de se colocar na vida.

Vibra, e nessa vibração, conquista corações. É prato cheio para os invejosos.

Presenteia, como forma de fazer parte da sua vida, da sua casa, do seu corpo. Ganha com isso a fidelidade do outro. 

Leal, mesmo te passando a perna, porque antes de tudo, coloca a si em primeiro lugar. 

Levar rasteira desse é uma forma de aprender a viver por si mesmo, pelo desejo e pelas relações. Ou tudo é diplomacia, negociação, ou tudo é na base do eu primeiro, mesmo disfarçado do fazendo por você. 

Autenticidade, especialmente porque interpreta seu próprio personagem.

Sim, a Lua em Leão para fechar com chave de ouro.

E para concluir essa série de contos da Lua, um filme mais cult, que até merece um descritivo sobre ele.

Porque sim, Leão, né gente?!? pedindo sempre mais atenção.

Simone de Paula - 27/10/23


"Pierre Wesselrin (Jess Hahn) é um músico parisiense, que recebe um telegrama informando que sua tia rica faleceu. Como ela apenas tinha dois parentes vivos, Pirre deduz que herdará sua fortuna. Com isso decide realizar uma grande festa para comemorar, convidando todos os seus amigos. Entretanto no dia seguinte ele descobre que fora deserdado pela tia, com a fortuna ficando inteiramente para seu primo, que considera um idiota."

"É a história de um músico fracassado Pierre Wesselrin (Jess Hahn). Rohmer mostra uma Paris diferente da mostrada geralmente nos filmes, bela e turística, mas sim a miserável, mendigos, deprimente, moradores de rua, pedintes. Rohmer exibe diversos locais da cidade, bares, cafés, lanchonetes, restaurantes, livrarias, etc. Rohmer ressalta a falência financeira de Pierre e seu fracasso profissional/musical. O signo de Pierre é Leão e seu signo influe em sua trajetória de vida no roteiro de Rohmer, pois o diretor/roteirista discute Astrologia no filme, assim o fato de ser leonino leva Pierre a esperar por uma dádiva/milagre, e sua vida é marcada ou pela riqueza ou pela pobreza, ou tudo ou nada. Pierra anda perdido e vagando pelas ruas de Paris, passa fome, frio, mendiga, em total silêncio contemplativo de desespero e aflição, humilhado e cabisbaixo. O filme é belíssimo, poético e de um lirismo ímpar. Maravilhoso. Dez! "


sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Conto da Lua nº 3

Blá blá blá. 

Falar, mexer, pensar, tudo ao mesmo tempo agora.

Tem mais ideias do que articulação para colocar todas para fora de uma vez. Durante a tagarelice, ainda lembra de mais alguma coisa pra incluir. 

Associa livremente e ninguém sabe onde começou e nem como vai acabar. Ás vezes numa risada, outras numa discussão acalorada.

Quer aprender, conhecer, ensinar. Movimento na mente, no corpo e no coração. Mas não é sentimental, não. Usa a razão para cifrar e decifrar o mundo material e emocional.

Amizades muitas, todas, mas sem grude, sem par, quanto mais múltiplo e diverso, melhor.  E é disso que vem a fama da promiscuidade, porque conhecer, nunca é demais. 

Seduz com atitude, conversa fiada, se fazendo de bobo. Não cria clima, mas vai pra cima. E, se não der em nada, nem tem crise, porque era mesmo só uma tentativa, uma brincadeira sem consequências.

Tinha lá uma música da Blitz que dizia, rádio Blá!  Isso é tudinho essa Lua em Gêmeos de hoje. 

E para ilustrar, tem esse filme, meio musical, meio romance, meio DR, que é muita coisa junta e misturada, La La Land - Blá, blá, bang!

Simone de Paula - 20/10/23



sexta-feira, 13 de outubro de 2023

Conto da Lua nº 2

Ah, que delícia! Chegou o momento de prazer, deleite.

Comedimento não pela avareza, mas para usufruir do melhor, na medida certa, para não transformar o que é bom em ruim pelo excesso.

Fome, o que é? Apetite! Gula, o que é? Apetite. Vontade, o que é? Apetite. 

Não é só de comida que se fala aqui. É também de descanso, adiamento do que não importa, aquisição do que vale, viver com o que é bom.

Sabedoria do corpo, de pesos e medidas, do bom e do belo.

Sedução com a matéria, feitiço com a realidade.

Ciúme, posse, quer só para si. Constância, permanência, teimosia.

Satisfeito, mas nunca desinteressado.

Todo sedutor carrega um seduzível dentro de si, e numa esquina qualquer, um cheiro, um olhar, pode abrir novamente as portas para o apetite e levar a querer além do que tem. 

Nesta sexta treze, a Lua em Touro vem provocar os sujeitos das dietas e do detox, para dizer que só se vive uma vez. E, com tanta coisa boa por aí, melhor pegar só um bocadinho a evitar o prazer com medo das mazelas da vida.

Para ilustrar, essa série lindinha, Cozinhando para uma casa Maiko, que traz comida e beleza, sedução e parceria, na medida certa.

Simone de Paula - 13/10/23





sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Conto da Lua n 6

Limpa, organiza, esquematiza, produz.

Sabe aquela música, 'todo dia ela faz tudo sempre igual', é mais ou menos isso.

Não é só pra repetir, mas porque disciplina e método garantem a melhor forma de eficiência e eficácia.

Pena que o mundo não para pra manter tudo no lugar.

Precisa de garantia, de saber que tem patrão, que alguém manda, porque sabe bem obedecer.

Não é só questão de hierarquia para ter reconhecimento, mas para que as coisas tenham ordem, lugar, definição.

O mundo precisa disso, nem que seja um pouco. Mas com isso vem crítica, juízo de valor sobre tudo e todos.

Tem escala de certo e errado, de bom e mau, sempre ficando do lado exato da corda.

Sabe que faz para que alguém desfaça e isso provoca nervoso, irritabilidade, tensão. 

Segue ao slogan: 'atendemos bem para atender sempre.' Faz porque gosta, porque quer, mas insiste em dizer que faz porque alguém tem que fazer.

Se ocupa, não descansa, nem tem tempo para isso.

E, nesse conto, a expressão limitada da Lua em Virgem. E como filme inspirador, mais um filme antigo, mas maravilhoso, 'Vestígios do Dia", com Anthony Hopkins e Emma Thompson.


Simone de Paula - 06/10/23


 

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Conto da Lua nº 9

Excesso, brilho, festa e diversão.

Sorriso gigante no rosto, braços abertos para a multidão.

Tudo tem a dimensão do universo, tem desejo e energia de sobra para fazer tudo que tá no mundo, que chama por diversão.

Bom humor, brincadeira, joga o jogo da vida sem medo de perder.

Quer tesão, sexo, sangue, suor e lágrimas. 

Comedidos e racionais não entendem porque não consegue parar. A resposta é simples: porque não quer.

Tem corpo cheio de energia, músculos pulsantes, disposição, simpatia e carisma.

Fala alto, sobe no palco, chama para a festa.

Na hora da briga, não se esconde, grita mais alto, não ameaça, mas não recua. E no final, ainda senta com o adversário para tomar uma cerveja, ou os dois acabam exaustos no hospital.

Quer tudo, quer todos, não é de ninguém.

E essa é a Lua excessiva de Sagitário. Liberdade, libertinagem, na vibe da felicidade.

E um filme antigo e maravilhoso, Pricilla, a Rainha do deserto.


Simone de Paula - 29/09/23



sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Conto da Lua nº 12

Entre o encantamento e o sofrimento, ela segue no balanço das águas.

Acredita, porque sente que é assim. Se é místico, racional ou paranormal, pouco importa.

Não sabe funcionar pela lógica padrão, escapa das amarras das provas concretas, se apega às promessas mais inspiradoras e malucas.

Se te conta uma história, como um pescador, aumenta na medida do que gostaria que tivesse sido. Quer parceiros de viagem que naveguem olhando para as estrelas e vibrando para encontrar um novo mundo.

Se vai dar certo, talvez não. Ou vai ser menos prazeroso do que ela imagina, mas o que seria da vida se não se pudesse correr riscos?

Emotiva, sonhadora, criativa, encantadora. 

Seduz mesmo sem querer, mas de boba não tem nada. 

Chantagem sempre com cara de tristeza e sofrimento, desamparo e abandono. Carrega a orfandade dentro de si. Com isso, se apega a quem olha, quem dá atenção.

Num dia qualquer, encontra o amor. Dias depois, a desilusão. Mas nada disso a impede de dar mais uma volta na roda-gigante da vida, amando de novo e sofrendo mais um tantão.

Essa é a Lua em Peixes, que vê pêlo em ovo, brilho no olho, desejo no tom de voz. Tudo que tem aura, tem o olhar atento dos portadores dessa Lua arricada.

E  para ilustrar essa condição, a fofura de Amélie Poulin.


Simone de Paula - 20/09/23